sábado, 12 de abril de 2008

Vista cansada(Para ler e refletir)

“Lendo” por aí achei esse texto interessantíssimo de Otto de Lara chama-se “Vista cansada” postarei esse texto, pois achei de fundamental importância alertar sobre o que a convivência excessiva pode ocasionar isso vale também aos casais apaixonados (mas nesse momento não vem ao caso).

Vista cansada

“Acho que foi o Hemingway quem disse que olhava cada coisa a sua volta como se a visse pela ultima vez. Pela ultima vez ou pela primeira vez?Pela primeira vez foi outro escrito quem disse. Essa idéia de olhar pela última vez tem algo de deprimente. Olhar de despedida, de quem não crê que a vida continua, não admira que o Hemingway tenha acabado como acabou. Fugiu enquanto pôde do desespero que roía – e daquele tiro brutal.

Se eu morrer, morre comigo certo modo de ver, disse um poeta. Um poeta é só isto:um certo modo de ver.O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar.Vê não - vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil mas não é .O que nos cerca,o que nos é familiar,já não desperta a curiosidade .O campo visual da nossa rotina é como um vazio.
Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que é que você vê no seu caminho,você não sabe.De tanto ver,você não vê.Sei de um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo hall do prédio do seu escritório.Lá estava sempre, pontualíssimo ,o mesmo porteiro .Dava-lhe bom dia e às vezes lhe passava uma correspondência .Um dia o porteiro cometeu a descortesia de falecer.
Como era ele?Sua cara?Sua voz?Como se vestia?Não fazia a mínima idéia. Em 32 anos, nunca o vi. Para ser notado, o porteiro teve que morrer. Se em um dia estivesse no seu lugar uma girafa, cumprindo o rito, pode ser também que ninguém desse por sua ausência. O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos. E vemos?Não, não vemos.
Uma criança vê o que um adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de fato, ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho.Marido que nunca viu a própria mulher,isso existe às pampas. Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos. È por aí que se instala no coração do monstro da indiferença.”


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Por : Tássio Caique
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